Estamos em: setembro de 1989
Eu nunca fui muito uma criança de futebol. Era sempre uma das últimas a serem escolhidas nas inevitáveis partidas de toda aula de Educação Física. Meu pai me colocou em uma escolinha de futebol (bem mixuruca) por alguns meses, e me levou para algumas partidas do time amador da minha cidade. A impressão que eu tinha é que meu pai também não era muito uma pessoa de futebol, que aquilo era mais o que se esperava dele. Ele assistia aos jogos do Cruzeiro e do Atlético e torcia para um ou para outro. Não ia em jogos, exceto estes em que ele me levou.
Meu pai não ser maluco com futebol talvez tenha me dado a liberdade para não gostar de futebol. Eu não me dou bem nestes esportes muito competitivos, e as pessoas ficavam muito raivosas assistindo e jogando. Me irritava e me assustava um pouco. É como se o futebol fosse o League of Legends da minha infância. Eu era gordinho, desajeitado e não tinha prática, mas gostava de jogar pelada com meus amigos na infância. O chato é que sempre havia crianças que ficavam com raiva por eu não saber jogar bem. Olhando em retrospecto, talvez a pressão que os pais exerciam sobre elas fosse enorme.
Vamos para um causo: meu tio-avô tinha dois filhos. O mais novo, aparentemente, jogava bola bem. O mais velho era mediano. Havia todo um puxa-saquismo com o filho mais novo, e uma pressão proporcional à atenção recebida. Meu tio-avô vendeu a casa para bancar as viagens e treinos. No fim das contas o filho dele, claro, não virou jogador profissional. Algo em escala menor aconteceu com um primo meu, e acontece com outro.
Vi estes dias uma reportagem com uma garotinha que joga bola (aparentemente bem) em Uberlândia. A família, bem pobre, vê nela uma esperança de um futuro menor. Perguntaram para a menina, de uns 10 anos, qual era seu sonho. Ela respondeu, chorando: “Comprar uma casa para minha mãe”. Meu peito retorceu. Espero que ela esteja bem.
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Não que eu odiasse futebol daquele jeito clássico “nerd que não sabe nada de esportes”. Eu sei o que é impedimento. Quando a rotina deixava, almoçava assistindo o Alterosa Esporte, programa de futebol da filial do SBT da minha cidade, e ria muito. Amo assistir as partidas das Copas do Mundo com amigos. Não acompanhei a da copa recente pelos horários, mas fiquei triste com a eliminação da Seleção. Acontece que “gostar de futebol”, no Brasil, tem peso demais. Implica em saber as escalações, em gritar com a TV. Futebol é algo tão grandioso que a ideia de termos programaS diários na TV aberta sobre um único esporte não traz estranhamento.
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Meu Mega Drive veio com uma fita com dez jogos, a SEGA TOP TEN. Um deles era de futebol, o segundo pior jogo de lá (o pior era Super Monaco GP). Chamava-se SEGA SOCCER, e eu nunca o encontrei com este nome nos pacotes de roms. Como eu encontrei o SEGA TOP TEN (com o nome de 10 Super Jogos), sua ausência não me incomodava. Não é um jogo que eu fosse procurar para jogar, de qualquer forma.
(se te incomoda meu uso inconstante de SEGA e Sega, saiba que compartilho do incômodo. Há grafias distintas, e eu tento usar SEGA para me referir à empresa e Sega quando é parte de algum título, mas há títulos que usam a grafia toda em caixa alta)
Um dia um tio meu estava lá em casa e provavelmente pediu para ver os jogos que eu tinha no videogame. De algum modo eu parei no jogo de futebol, o que é algo curioso em si: eu nunca mostrava este jogo. Já tinha visto meus amigos jogando futebol no Super Nintendo, provavelmente Superstar Soccer, e eu tinha vergonha da tosqueira que era o Sega Soccer.
Esse tio meu jogava videogame, mas não lembro de ele ter jogado neste dia. Talvez eu não tivesse um controle extra ou talvez ele não tivesse interesse em jogar. Bem, eu fui jogando Sega Soccer e ele e meu pai foram assistindo e comentando. Minha habilidade jogando era irrelevante: eles comentavam como se fosse um jogo real de dois times para os quais eles não torciam. Importava só que a partida existisse. Foi uma sensação estranha. Provavelmente eu zerei.
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World Cup Soccer foi relançado com vários nomes. No Brasil, virou Super Futebol. A tela de abertura tem o título World Championship Soccer. Ele também é conhecido como World Cup Italia '90 e provavelmente tem mais alguns codinomes que usa por vergonha. As seleções disponíveis são interessantes: temos Alemanha Ocidental, União Soviética, Iugoslávia, Argélia... Seleções que não vemos em toda copa, as três primeiras de países que sequer existem mais. O Brasil tem a seleção mais poderosa, e é possível escolher o Pelé como jogador. Até eu, que não conheço o esporte a fundo, sei que Pelé não jogava mais em 1989.
Sega Soccer é feio. A interface é feia, e muitas telas parecem um Excel antigo. Os simplórios personagens são vistos de cima, todos eles são iguais e a animação é tosca. O jogo alterna o futebol porco com imagens imóveis nas comemorações e menus.
No vídeo: um sofrido gol de bicicleta.
O jogo sequer implementou as regras do esporte. Não há cartões, e os carrinhos acabam virando a estratégia principal para vencer. Cinco minutos de uma partida de Sega Soccer colocariam o Neymar em estado vegetativo. Se não há sequer cartões, o que dirá impedimentos. Há telas paradas até durante o jogo, como nos tiros de meta e nas comemorações. Não dá para alternar entre os jogadores: a máquina faz isso por você. Toda partida parece ser igual. A trilha sonora tem apenas uma música, e os efeitos sonoros parecem estar sempre com atraso. Pelo menos o efeito da bola sendo chutada alta é bonito.
Felizmente, é possível jogar contra outro jogador. Infelizmente, não há uma copa para dois jogadores. Você joga uma partida contra o outro jogador e volta para o menu inicial. Ah, isso me faz pensar em uma fraqueza da Mega Maratona: como jogo sozinho, acabarei não aproveitando bem os jogos que são melhores jogando com outros jogadores. Paciência.
PS: Venho modificando a newsletter com o passar do tempo. Coloquei uma imagem da tela de abertura e da tela de zeramento no começo e no fim da postagem, respectivamente. Vou manter o padrão, achei bonito. E coloquei, também, o mês e ano em que o jogo foi lançado nos Estados Unidos, para dar uma contextualização. Passei a colocar um vídeo curto para que seja possível ver o jogo em movimento. Caso tenham sugestões, deixem comentários :)
Cenas dos Próximos Quilômetros:
Zerei Ghost ‘n Ghouls! Agora falta só zerar tudo de novo para derrotar o último chefe e ver o verdadeiro final…
Estou adiando jogar os outros jogos de esportes. Quem joga golf no videogame?
Dicas:
A única dica é: não jogue World Cup Soccer. O jogo é simples demais até para ter trapaças ou estratégias notáveis. Talvez surja mais pra frente na maratona algum jogo de futebol que preste…